A ameaça de perder a terra de seus antepassados foi um dos motivos que levou a caiçara Angélica de Souza a entrar de corpo e alma na luta contra a especulação imobiliária.
Nascida e criada na Praia Mansa, localizada na Baía dos Castelhanos, Angélica começou a participar de reuniões públicas em 1998 e não parou mais. Segundo ela, foi quando passou a colocar em prática um dom: a de ser voluntária na defesa da cultura caiçara.
“Em 2004 entrei para o Conselho do Parque Estadual e em 2005 nós, moradores, percebemos a necessidade de formar uma associação. Então, fundamos a Amor Castelhanos – Associação dos Moradores e Pescadores Artesanais da Baía dos Castelhanos”, conta.
Segundo ela, a comunidade viu que estava na hora de se organizar e ter representatividade nos encontros e reuniões que tratavam de questões fundiárias e da preservação das tradições caiçaras.
Otimista, batalhadora e ‘briguenta’, esses são atributos que a própria Angélica confere a si mesma. E ela garante que foram essas qualidades que auxiliaram, junto com a determinação dos demais moradores, numa grande conquista. “A de saber que o direito sobre a nossa terra é nosso! Conseguimos provocar o Ministério Público e hoje contamos com o apoio do órgão nas esferas estadual e federal. Assim, em 2015, nossa comunidade foi uma das que ganhou o Termo de Autorização de Uso Sustentável Coletivo”. Esse é um instrumento jurídico fornecido pela Secretaria de Patrimônio da União (SPU).
Além da preocupação fundiária, a líder também participa de ações que resgatam e valorizam a cultura caiçara. Por meio do Projeto Tribuzana, com apoio do Ministério Público Federal (MPF), foi criado o primeiro Conselho Municipal Caiçara do país. Com isso, as comunidades tradicionais de Ilhabela, passaram a ter voz ativa nas decisões e nas políticas sociais do município, em especial aquelas que podem afetar seus saberes e modos de vida ancestrais e também seus direitos territoriais, socioambientais, econômicos e culturais.
Em sua trajetória pela defesa dos direitos e tradições caiçaras, Angélica entende que não agrada a todos. “Na questão fundiária, por exemplo, você vira alvo e ganha inimigos. Mas, ao mesmo tempo, encontro muitas pessoas do bem e faço muitos amigos”. Com coragem e bravura, a líder comunitária garante que não foge de nenhum embate e que os desafios só a motivam a continuar. “A cada vitória conquistada me sinto realizada”, afirma.
Angélica também sabe que é preciso muita determinação para lutar pelos ideais da comunidade. “Aprendi que as coisas não acontecem da noite para o dia, mas sim com muita persistência. E fico muito feliz em ver o sorriso estampado no rosto dos moradores, sabendo que nossa cultura está sendo defendida com unhas e dentes. Sinto orgulho de ser caiçara da Praia Mansa e digo que meu sangue cheira a peixe”.
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